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Despreparo, falta de infraestrutura e estigma dificultam atendimento emergencial de paciente com obesidade no Brasil
21/10/2024

O aumento da obesidade na população brasileira trouxe à tona importantes desafios para os profissionais de saúde, especialmente nos departamentos de emergência. Por isso, o atendimento a pacientes com obesidade nas emergências, sobretudo na rede pública, requer adaptações urgentes, como a adequação na estrutura hospitalar e a capacitação das equipes. É o que recomendam a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), em um esforço conjunto para derrubar também os estigmas associados ao tema. 

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Segundo dados do Ministério da Saúde, 61,4% da população nas capitais brasileiras apresenta sobrepeso, enquanto 24,3% vivem com obesidade. No mundo, a Federação Mundial de Obesidade estima que o número de adultos com sobrepeso ou obesidade chegará a 3,3 bilhões em 2035. “Sabemos a prevenção é o principal combate contra essa doença. No entanto, não podemos assistir ao crescente da demanda sem nos preocuparmos com a qualidade da assistência prestada aos pacientes, seja na rede pública e privada”, destacou a presidente da ABRAMEDE, Camila Lunardi.

Nos departamentos de emergência, a realização dos exames físicos é um dos maiores desafios. O excesso de tecido adiposo dificulta a realização de exames clínicos essenciais, como palpação e ausculta, e compromete a identificação rápida de sinais clínicos críticos, como a pulsação em pacientes inconscientes. “Isso pode atrasar procedimentos que exigem resposta imediata, como a ressuscitação cardiopulmonar. Por isso precisamos de profissionais altamente capacitados”, disse Camila Lunardi.

Além disso, procedimentos rotineiros, como a obtenção de acesso venoso, tornam-se mais complicados e exigem maior número de tentativas, o que aumenta o risco de infecções e tromboses. Outro ponto crítico é a intubação em pacientes com obesidade, que demanda técnicas especializadas, como a "posição rampada", que facilita a visualização das vias aéreas e melhora a ventilação. 

Exames de imagem também enfrentam limitações. A ultrassonografia e radiografias são prejudicadas pela presença de tecido adiposo, e tomografias e ressonâncias muitas vezes requerem múltiplas varreduras, prolongando o tempo de exame e aumentando a exposição à radiação. “Atualmente, não existem diretrizes claras sobre qual exame de imagem deve ser priorizado em pacientes com obesidade nas Emergências. A escolha geralmente depende da experiência do profissional e da disponibilidade dos equipamentos”, explica a presidente da ABRAMEDE.

Recomendações – Para enfrentar esses desafios, os especialistas recomendam diversas ações. Uma delas é adaptar a infraestrutura dos departamentos de emergência para acomodar o peso e as dimensões dos pacientes com obesidade, incluindo a disponibilização de macas reforçadas, cadeiras de rodas maiores e balanças de alta capacidade. 

A capacitação das equipes médicas também é fortemente recomendada, especialmente para que os profissionais possam realizar exames físicos adaptados à obesidade e manusear corretamente os equipamentos necessários para o atendimento desses pacientes. Além disso, o estigma associado à obesidade deve ser combatido e os profissionais devem ser incentivados a usar linguagem empática e adequada, evitando atitudes preconceituosas que possam impactar negativamente o atendimento.

No âmbito das políticas públicas, o documento propõe medidas específicas, como a incorporação de treinamento sobre obesidade e suas comorbidades nos currículos dos programas de residência em Medicina de Emergência. Outro aspecto é a inclusão do peso do paciente nas informações de referenciamento, para que pacientes com mais de 150 kg sejam encaminhados a serviços devidamente capacitados e estruturados para seu atendimento. 

Além disso, A ABRAMEDE e Abeso propõem a urgente criação de protocolos clínicos padronizados para o cuidado de pacientes com obesidade grave em emergências, considerando tanto as adaptações físicas quanto o suporte psicológico necessário. O combate à gordofobia deve ser promovido por meio de campanhas institucionais de conscientização e educação, a fim de reduzir o preconceito e garantir um atendimento humanizado e adequado.