A Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede) publicou uma nota oficial manifestando preocupação com a abordagem política e sensacionalista em fiscalizações realizadas recentemente em unidades de saúde. Segundo a entidade, ações descontextualizadas e midiáticas distorcem a realidade do atendimento médico e das condições de trabalho das equipes, contribuindo para um ambiente de desconfiança e hostilidade.
A Abramede também destacou que os profissionais de saúde, especialmente os que atuam em emergências, enfrentam jornadas intensas e condições adversas, e que o direito ao descanso é uma prática essencial para garantir a qualidade do atendimento. A nota enfatiza ainda que fiscalizações devem ser conduzidas com seriedade, embasamento técnico e respeito às condições reais de trabalho, sob o risco de fomentar violência e intolerância contra profissionais já expostos a desafios extremos.
Leia abaixo a íntegra da nota:
Sensacionalismo não salva vidas
A Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede) manifesta preocupação com as recentes fiscalizações realizadas por políticos de maneira sensacionalista em unidades de saúde. Essas ações não apenas distorcem a realidade do atendimento médico e das condições de trabalho, mas também contribuem para um ambiente de desconfiança e hostilidade contra os profissionais de saúde.
Os médicos e demais trabalhadores da saúde, especialmente nos departamentos de emergências, dedicam suas vidas a salvar outras, muitas vezes atuando em condições adversas e enfrentando jornadas intensas. Esses profissionais, no entanto, também têm direito a períodos de descanso durante momentos de menor fluxo, conforme previsto pelas normas trabalhistas e de saúde ocupacional. Esses intervalos não comprometem a prontidão e são fundamentais para garantir a qualidade do atendimento. Reduzir essa dinâmica a narrativas simplistas é um desserviço à sociedade.
Embora a preocupação política com a qualidade do atendimento seja legítima, também é preciso reconhecer que a superlotação nos departamentos de emergência é frequentemente consequência da ausência de serviços de atenção básica em muitas regiões. Essa lacuna obriga os pacientes a recorrerem a emergências, que deveriam ser destinadas exclusivamente a casos críticos. Para evitar o colapso desses serviços e garantir um atendimento mais eficiente à população, os agentes políticos precisam concentrar esforços na ampliação e fortalecimento da atenção básica à saúde.
É preciso ainda reforçar que fiscalizar o sistema de saúde com seriedade e respeito é necessário, mas exige embasamento técnico e sensibilidade às condições reais de trabalho. Descontextualizar a atuação das equipes médicas para gerar polêmica não contribui para a melhoria dos serviços prestados. Pelo contrário, ações irresponsáveis podem fomentar a intolerância e a violência contra quem está na linha de frente, como evidenciado em nosso estudo BRAVE (Brazilian Emergency Violence Exposure).
Mais preocupante ainda é a raridade com que se observa uma defesa contundente dos direitos dos profissionais de saúde diante de agressões ou condições de trabalho inadequadas. Esse silêncio contrasta com o barulho gerado por críticas infundadas e abordagens sensacionalistas.
Conclamamos os agentes públicos a priorizarem um diálogo construtivo e responsável, focado em soluções reais que promovam melhorias no sistema de saúde, em vez de disseminar desinformação e desrespeito. Respeito e responsabilidade devem guiar toda ação de fiscalização na saúde. Afinal, sensacionalismo não salva vidas.
Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede)