A cada minuto, uma pessoa dá entrada num pronto-socorro devido a crises agudas causadas por doenças que afetam o coração, como insuficiência cardíaca, infarto agudo do miocárdio e outras. Somente em 2023, foram 641.980 internações decorrentes dessas causas. O alerta, feito em função do Dia Mundial do Coração (29 de setembro), é da Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE), preocupada com a frequência de casos acolhidos no Sistema Único de Saúde (SUS).
Pelo levantamento da entidade, que nesta semana discute esse e outros desafios das emergências durante o IX Congresso Brasileiro de Medicina de Emergência (CBMEDE), em Campo Grande (MS), foram mapeados os principais problemas cardiovasculares registrados nos hospitais, entre eles a doença reumática crônica do coração, infarto agudo do miocárdio, doenças isquêmicas do coração, transtornos de condução e arritmias cardíacas, e insuficiência cardíaca.
“Os números mostram a urgência e a importância dos médicos emergencistas, que estão na linha de frente de situações críticas. Este é um dos muitos desafios que enfrentamos todos os dias. Por isso, é fundamental fortalecer a infraestrutura hospitalar e capacitar continuamente as equipes de emergência para lidar com o volume crescente e a complexidade dos casos”, ressalta Camila Lunardi, presidente da ABRAMEDE. Ao longo desta semana, a entidade reunirá cerca de 1.600 especialistas do Brasil e do exterior para discutir soluções e aprimorar práticas no atendimento de emergências.
Pressão sobre o SUS – O levantamento revela uma forte pressão sobre as emergências em todas as regiões. O Sudeste, região mais populosa do País, concentrou o maior número absoluto de internações por doenças cardíacas, com mais de 241 mil atendimentos. Estados como São Paulo e Minas Gerais lideraram o número de casos.
Nas regiões Norte e Nordeste, a pressão sobre as emergências também é significativa, especialmente em estados como Ceará e Pernambuco, que registraram, respectivamente, 20.374 e 24.331 atendimentos de urgência. Esses números correspondem a mais de 90% das internações por doenças cardíacas nesses estados. No Norte, o estado do Amazonas se destaca, com 5.899 atendimentos de urgência.
O cenário mais crítico, no entanto, está no Mato Grosso do Sul, onde 97% das internações por doenças cardíacas foram de urgência. O estado registrou 10.590 internações de urgência, em um total de 10.963 atendimentos no ano passado, maior percentual de urgências em relação ao total de internações em todo o Brasil.
Caráter emergencial - Segundo o levantamento, no ano passado mais de 85% das internações relacionadas a doenças cardíacas foram de caráter emergencial. O infarto agudo do miocárdio, por exemplo, teve 152 mil internações de urgência em 2023, representando 88% do total de internações para essa condição. “O tratamento para o infarto exige uma resposta eficiente das equipes de emergência, o que pode ser a diferença entre a vida e a morte”, destacou a presidente da ABRAMEDE.
Além disso, a insuficiência cardíaca, uma das condições cardíacas mais comuns, registrou 194,5 mil hospitalizações de emergência, ou 94% do total de casos da doença. “A insuficiência cardíaca ocorre quando o coração não consegue bombear sangue de forma eficiente, exigindo intervenção emergencial para evitar desfechos graves. Essa condição é uma das principais causas de hospitalização entre adultos e idosos, e, assim como no caso do infarto, o tempo de resposta dos profissionais é determinante para a recuperação do paciente” explica a especialista.
Perfil do paciente – Os homens aparecem como público mais afetado, na avaliação do perfil dos pacientes internados em caráter de urgência. Eles respondendo por 57% das internações em 2023, enquanto mulheres representaram 43% dos atendimentos. O levantamento também mostra que o risco de doenças cardíacas aumenta consideravelmente com a idade, sendo que 67% das internações ocorreram em pacientes com 60 anos ou mais.
Embora as doenças cardíacas sejam majoritariamente associadas ao envelhecimento, há um número considerável de casos de atendimentos entre adultos jovens, que frequentemente estão expostos a hábitos de vida prejudiciais à saúde cardiovascular. “Estamos vivendo um momento em que o envelhecimento da população e o aumento dos fatores de risco, como o sedentarismo e a má alimentação, têm levado ao crescimento dos casos de doenças cardíacas”, explica Camila Lunardi.