Como um hospital ou pronto-socorro deve se preparar para atendimento de vítimas em situação de desastre é o tema de um documento lançado nesta semana pela Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE), em parceria com a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). O texto é fundamental para gestores e profissionais da saúde no planejamento de ações que impactam no cotidiano dos estabelecimentos de saúde. O trabalho foi preparado pelas entidades para colaborar com o atendimento às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.
“Temos certeza de que todos os que estão na linha de frente no Rio Grande do Sul estão comprometidos e empenhados em oferecer o melhor atendimento à população. Com esse trabalho, esperamos apenas contribuir, chamando atenção para tópicos em que a experiência da Medicina de Emergência e da Medicina Intensiva podem ser úteis no momento da tomada de decisões”, disse a presidente da ABRAMEDE, Camila Lunardi.
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No documento “Resposta hospitalar a desastres”, especialistas em Medicina de Emergência e Medicina Intensiva apontam, objetivamente, fatores que não podem ser ignorados por quem está responsável por providenciar a infraestrutura para acolhimento de vítimas e familiares. Tudo vem delineado em forma de um Roteiro Prático do Posicionamento, no qual conceitos são apresentados, assim como importância de um plano de ação para alocar recursos técnicos e assistenciais de forma equitativa.
Níveis de gravidade - Para a ABRAMEDE e a AMIB, a preparação e o mapeamento de riscos são fundamentais. Nesse processo, a avaliação da capacidade total instalada nos centros hospitalares e a mobilização de recursos não pode ser negligenciada, assim como a percepção sobre os níveis de gravidade e de tempo de resposta para as demandas assistenciais. Na avaliação dos especialistas, elas podem ser segmentadas em quatro categorias, cada uma exigindo diferentes graus de ação e mobilização de recursos.
No nível verde, se enquadram as vítimas com ferimentos leves ou sem lesões significativas e que podem esperar por atendimento sem risco imediato para a vida. Essas vítimas podem ser encaminhadas para avaliação e tratamento em área do hospital com menos recursos. Já as de nível amarelo, apresentam lesões moderada com necessitam de tratamento, mas uma condição de perigo imediato. Esses casos, após avaliação em área próxima da emergência poderão se beneficiar de recursos avançados e salvadores de vida.
Já as vítimas do nível vermelho apresentam ferimentos graves que requerem atenção imediata para salvar suas vidas. Elas devem ser priorizadas para tratamento emergencial. No caso daquelas que estão no nível preto, não há possibilidade de sobrevivência ou que demandam recursos desproporcionais para serem tratadas, priorizando os esforços para salvar outras vidas.
Na avaliação das entidades, a capacidade deve ser regularmente avaliada e adequadamente ajustada, conforme se apresentam as necessidades da população atendida e são identificados os riscos no mapeamento de desastres. Com respeito à infraestrutura e aos processos, eles devem ser escaláveis para acomodar um aumento súbito na demanda durante incidentes com múltiplas vítimas. A atenção a esse e outros processos da assistência fazem toda a diferença na eficácia da resposta médica às vítimas.
Responsabilidades - Outros pontos abordados no documento são a definição do fluxo da cadeia de acionamento e os papéis e responsabilidades claras da equipe no comando. Além disso, o guia aborda ainda aspectos como triagem de pacientes e critérios para atendimento priorizado das vítimas; e o exercício da comunicação e da coordenação em cenários de desastre de nível elevado, como foco na integração com outras instituições e a emissão de mensagens claras para o público.
Por fim, o texto enfatiza a relevância dos registros e da documentação durante cada etapa das ações. Segundo Camila Lunardi, “todos os aspectos do incidente, desde a triagem inicial, incluindo as decisões do Centro de Comando e até as ações pós-incidente, devem ser meticulosamente documentados. Isso serve como base para a revisão de protocolos e para o treinamento futuro”.